É o Estado financiando bilionários, enquanto pequenos comerciantes urbanos mal conseguem acesso a crédito para manter um carrinho de lanches ou uma loja de bairro

Enquanto o pobre paga imposto até no pão, agro desfila de caminhonete com isenção, denuncia a economista Sofia Manzano

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Em um vídeo que repercutiu fortemente nas redes sociais, a professora e economista Sofia Manzano, candidata à Presidência da República em 2022 pelo PCB, descontrói de forma corajosa e fundamentada o mito do agronegócio como pilar absoluto do progresso nacional. Ao contrário do bordão publicitário — “o agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo” —, Manzano denuncia que o agro é, na verdade, “a indústria da pobreza” no Brasil. E o faz com números, indignação e precisão analítica.

Segundo a economista, só no Plano Safra deste ano, o setor foi contemplado com R$ 348 bilhões em subsídios públicos — um volume de recursos superior a muitos orçamentos ministeriais combinados. É o Estado financiando bilionários, enquanto pequenos comerciantes urbanos mal conseguem acesso a crédito para manter um carrinho de lanches ou uma loja de bairro. A crítica toca num ponto sensível: não há mercado livre quando há assimetrias tão escandalosas de incentivo e proteção.

Manzano ainda destaca o regime de isenções fiscais que blinda o agronegócio da responsabilidade tributária. Produtos primários exportados — soja, milho, algodão, carne — não pagam ICMS, graças à Lei Kandir. O Imposto Territorial Rural (ITR) pago por todas as fazendas do país é equivalente ao IPTU arrecadado por uma única cidade: São Paulo. A injustiça é estrutural. E, para agravar, até as luxuosas caminhonetes dos “agroboys” desfilam por aí com isenção de IPI — um privilégio negado, por exemplo, a motoristas de aplicativo.

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Ao expor esse cenário, Sofia Manzano escancara um modelo de Estado capturado, onde o capital agrário dita as regras do jogo enquanto o povo paga a conta. Não se trata de negar a relevância econômica do setor, mas de exigir contrapartida social, justiça fiscal e uma nova lógica de desenvolvimento. O Brasil que alimenta o mundo não pode continuar deixando seu povo com fome, suas periferias abandonadas e sua estrutura tributária a serviço da concentração de renda.

A fala de Manzano não é apenas uma denúncia: é um chamado à lucidez. Em tempos de propaganda milionária e fake news institucionalizadas, é urgente ouvir as vozes que ousam apontar os desequilíbrios que nos sustentam como nação. Porque enquanto o agro exporta riquezas, o Brasil importa desigualdade — e isso, definitivamente, não é pop.

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