O Museu Nacional da República, em Brasília, recebe pela primeira vez as máscaras do Bloco dos Caretas, tradição que há 80 anos colore as ruas de Guiratinga (MT). As peças, feitas à mão com argila, papel reciclado e cola de polvilho, são destaque na exposição “Lírica, Crítica e Solar: artes visuais em Mato Grosso”, que celebra os 50 anos do Sebrae/MT e reúne 200 obras de 50 artistas do estado.
A mostra, que segue até 11 de maio, coloca a cultura popular no centro ao incluir as máscaras do bloco, fundado em 1945 por garimpeiros como alternativa aos carnavais elitizados da época. “Era uma forma de democratizar a festa, já que os clubes cobravam caro e excluíam os trabalhadores”, explica o curador Laudenir Gonçalves, que descobriu a manifestação em pesquisas sobre tradições regionais.
Arte que resiste e emociona
As 19 máscaras expostas foram produzidas pela família Carvalho, guardiã da tradição. Djair Carvalho, mestre artesão com mais de 40 anos de ofício, emociona-se ao ver suas criações em um museu: “Tem máscara lá que eu olho e falo: essa aqui é minha”. Seu filho, Lucas Carvalho, vice-presidente do bloco, destaca a surpresa ao reencontrar peças antigas: “Algumas nem tínhamos registro fotográfico. Ver crianças e turistas admirando é gratificante”.
O bloco, que em 2025 completa oito décadas, nasceu pelas mãos de Leozino Moreira e seus irmãos, depois liderado por Chico Magro. Hoje, é símbolo de inclusão: reúne homens, mulheres, crianças, pessoas com deficiência e autistas. “É um bloco social: todo mundo pode brincar”, afirma Lucas.
Do folclore à economia local
Além de preservar histórias – como a da artesã Teresinha Silva, que na infância espiava os “caretas” escondida da mãe –, o bloco movimenta Guiratinga. “Um mês antes do carnaval, já não tem hotel disponível”, conta Teresinha. As máscaras, que já foram feitas de caixa de sapato e carvão, hoje misturam folclore regional e cultura pop, atraindo turistas.
O Sebrae/MT reforça o potencial turístico da tradição. “O Bloco dos Caretas é um ícone da identidade local”, diz Érika Santos, gerente regional da instituição, que recentemente entregou à prefeitura um plano de turismo destacando o bloco como “ativo cultural” da região.
Para André Schelini, diretor técnico do Sebrae/MT, a exposição é um marco: “Queremos que a arte mato-grossense ultrapasse fronteiras”. E, enquanto as máscaras encantam Brasília, em Guiratinga a família Carvalho já prepara novas peças – cada uma levando até um ano e meio para ficar pronta. “A gente quer causar impacto”, resume Lucas.
Serviço:
Exposição “Lírica, Crítica e Solar: artes visuais em Mato Grosso”
Local: Museu Nacional da República (Brasília)
Data: Até 11 de maio de 2025
Horário: Terça a domingo, das 9h às 18h30
Entrada gratuita
(com informações olhar conceito)
