Apesar de afirmar publicamente que se desvinculou de seus negócios ao assumir o governo de Mato Grosso em 1º de janeiro de 2019, o governador Mauro Mendes nunca deixou formalmente a sociedade da Maney Participações LTDA, conforme registros da Receita Federal. A holding, com capital social superior a R$ 47 milhões, é o elo central de uma intrincada rede de empresas, fundos de investimento e estruturas vinculadas à família Mendes e ao grupo Sollo — que ganhou força no mercado justamente a partir de 2019.
Os dados revelam que o governador permanece como sócio da Maney, embora tenha declarado em entrevistas e redes sociais que transferiu a gestão de seus empreendimentos para evitar conflitos de interesse. A empresa, no entanto, é a base de uma teia societária que conecta o núcleo familiar a outros negócios, muitos deles administrados por um mesmo nome: o engenheiro Luiz Gonzaga de Araújo Neto, atual sócio, diretor ou representante legal em diversas dessas companhias.
Coincidência temporal e relações sob análise
A ascensão do grupo Sollo no agronegócio e no mercado imobiliário coincidiu com o início do mandato de Mauro Mendes. Enquanto o governador defendia a “ética na gestão pública”, suas antigas empresas mantinham operações em setores que podem ser impactados por políticas estaduais, como licitações e zoneamento econômico.
A presença constante de Araújo Neto — que atua tanto em empresas da família Mendes quanto em estruturas ligadas ao Sollo — levanta questões sobre a real separação entre os interesses privados do governador e suas decisões na esfera pública.
Procurado, o governo de Mato Grosso não comentou os registros da Receita Federal, reiterando apenas que Mauro Mendes “não participa da gestão de nenhuma empresa desde 2019”. Já o escritório do empresário Luiz Gonzaga de Araújo Neto afirmou que “todas as operações são legais e transparentes”, sem detalhar a natureza dos vínculos com a família Mendes.
Transparência em xeque
Especialistas em compliance ouvidos pela reportagem destacam que, mesmo sem gestão ativa, a permanência formal em sociedades milionárias pode configurar conflito de interesse — sobretudo quando há movimentação financeira ou benefícios indiretos.
“A ausência de desligamento documental gera desconfiança. Se há conexões empresariais ativas, o cidadão tem o direito de saber como isso se relaciona com políticas públicas”, afirma um professor de Direito Administrativo que prefere não se revelar para evitar represalias.
A reportagem não encontrou indícios de ilegalidade, mas a teia societária — e seu timing — demandam explicações mais claras. Enquanto isso, a pergunta que fica é: o que mais está por trás dessa estrutura que une poder político e econômico em Mato Grosso? (com informações blogdopopo)


















