O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), atacou novamente o que chamou de “cultura do ‘não pode'” no Brasil, durante participação no podcast da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja-MT). Em suas declarações, ele afirmou que o país impõe “restrições excessivas” ao crescimento econômico, citando entraves em setores como infraestrutura e petróleo – e, mais uma vez, usou a questão indígena para ilustrar sua crítica.
“No Brasil não pode nada”, diz governador
Mendes repetiu um argumento que já havia usado em outros discursos: a ideia de que o Brasil “travado por regras” perde oportunidades. “No Brasil não pode fazer ferrovia, no Brasil não pode fazer a exploração do petróleo. Quando todo mundo tá explorando o petróleo no alto mar: ‘ah, mas no Brasil não pode, né?’ Ferrovia, todo mundo, o mundo inteiro faz ferrovia, mas no Brasil não pode”, disparou.
O governador, aliado do governo federal, também comparou a situação dos povos indígenas no Brasil com a de países como EUA e Canadá (os países que mais mataram e tiraram terras de indígenas) – algo que já havia feito em ocasiões anteriores, gerando reações. “Vai nos Estados Unidos, o índio americano trabalha, o índio canadense trabalha. Ah, mas no Brasil o índio não pode trabalhar. Ele tem que ficar dependendo de esmola da Funai, que não cuida direito deles”, afirmou.
Repercussão e críticas prévias
Essa não é a primeira vez que Mauro Mendes polêmica ao tratar do tema indígena. Em 2023, ele já havia dito que “índio quer trabalhar” e defendeu a flexibilização de regras para atividades econômicas em terras originárias – declarações que foram criticadas por lideranças indígenas e entidades de defesa de direitos humanos.
Desta vez, ao reforçar o termo “esmola” para se referir a políticas públicas voltadas a essas comunidades, o governador deve reacender o debate.
Defesa do agronegócio e infraestrutura
A fala ocorreu em um ambiente alinhado a sua base política: o podcast da Aprosoja, entidade representativa do agronegócio mato-grossense, setor que defende maior flexibilização ambiental e de infraestrutura para escoamento de produção. Mendes aproveitou para cobrar obras como ferrovias e mais investimentos em energia, temas caros ao setor e que vai de encontro com sua abordagem de dizer o que aquele público quer ouvir.
Especialistas ouvidos pela reportagem ponderam que, embora haja excesso de burocracia em alguns casos, a comparação com outros países ignora contextos históricos e sociais distintos. Para antropólogos, a ideia de que indígenas “não trabalham” desconsidera atividades tradicionais e a própria legislação brasileira, que garante direitos específicos a esses povos.
O Governo Mauro Mendes não detalhou se as declarações refletem novas propostas de políticas públicas ou se foram feitas no âmbito da defesa de bandeiras econômicas ou politicagem para o Senado. Enquanto isso, a fala deve alimentar discussões sobre desenvolvimento versus direitos sociais no estado.
(com informações do podcast da Aprosoja-MT e gazeta digital)