Em um cenário de cortes orçamentários e promessas de austeridade na administração pública, uma trajetória empresarial tem gerado debates acalorados em Mato Grosso. Fundada em 2020, em Cuiabá, a Built Up Engenharia e Soluções Ltda. registrou no ano de sua criação um faturamento de R$ 9 milhões. Um desempenho notável para uma empresa iniciante. No entanto, foi no ano seguinte que a situação deixou até os mais céticos intrigados: o faturamento saltou para R$ 94.135.484,00, um aumento de mais de 10 vezes em apenas 12 meses.
Boa parte desse impressionante volume financeiro está ligada a contratos com o governo do Estado, muitos deles firmados sob dispensa de licitação para a construção de presídios. A parceria com a Secretaria de Estado de Segurança Pública se destacou, em especial, pelo contrato vinculado ao Pedido de Empenho nº 19101.0009.21.006099-5, que consolidou a empresa como um nome recorrente nas obras estaduais relacionadas ao sistema prisional.
A ascensão meteórica da Built Up Engenharia, em tempos de crise econômica, levanta uma série de questionamentos. Enquanto empresas consolidadas enfrentam dificuldades para manter suas operações, uma recém-chegada ao mercado conseguiu não apenas se estabelecer, mas também alcançar o seleto círculo de contratos milionários com o poder público.
Seria este crescimento fruto de competência técnica e mérito empresarial? Ou haveria outros fatores envolvidos? A administração de Mauro Mendes, governador de Mato Grosso, tem enfatizado compromissos com eficiência e moralidade. Contudo, histórias como a da Built Up Engenharia reforçam a necessidade de vigilância e transparência em tempos de intensa movimentação no setor público.
A construção de presídios é, sem dúvida, uma demanda urgente para o estado. Mas a população também merece garantias de que os recursos destinados a essas obras estão sendo aplicados de forma ética e eficiente.
Diante das dúvidas, caberá a órgãos como o Ministério Público e o Tribunal de Contas investigar os contratos firmados e assegurar que os processos respeitaram as exigências legais e técnicas. Em tempos de desconfiança, o uso do dinheiro público precisa ser tratado com máxima clareza. Afinal, a mesma verba que financia presídios deveria também fomentar a construção de escolas, hospitais e infraestrutura.
Mais do que cifras milionárias, a história da Built Up Engenharia escancara a urgência de um debate sobre ética e eficiência na gestão pública. Para que a democracia não apenas funcione, mas inspire confiança, respostas precisam ser dadas.